Um dia após a comemoração do Dia da África, 25 de Maio, penso, convicto, com base no percurso seguido por Cabo Verde nos seus 35 anos de Independência, marcados por inegáveis avanços em todos os domínios, que o continente africano não só não é "um caso perdido" como é uma região do mundo com um enorme potencial de progresso, tanto pela incomensurabilidade dos seus recursos naturais como, em especial, pelo espírito laborioso dos seus povos, que a História regista.
Esta convicção assenta, contudo, num pressuposto básico: é indispensável um investimento sério na educação, através da qual se formam gerações de africanos cada vez mais conscientes desse potencial e, sobretudo, capazes de compreender e assumir que o progresso almejado está ao seu alcance.
A partir deste pressuposto, criar-se-ão, igualmente, as premissas necessárias para a emergência, nos diversos estados africanos, de lideranças competentes, com uma visão estratégica esclarecida e, em especial, comprometidas com o desenvolvimento e o progresso sustentáveis dos respectivos povos.
Nessa altura, a via fácil do enriquecimento de uns poucos, através das mil e uma formas de corrupção, do tráfico de drogas e de seres humanos, dos golpes de estado e conflitos armados, etc., não encontrará terreno fértil para germinar e crescer, cedendo passo ao surgimento de "uma vida nova" em todas as latitudes da Mãe África.
Este é um sonho que está sendo realidade em vários países africanos, de entre os quais cito o meu país (Cabo Verde), não obstante o muito que há ainda por fazer-se. E, no pressuposto acima referido, essa realidade será, cada vez mais, tangível em todos os países africanos!
Dir-se-á que, por ora, para muitos países africanos, afectados pelos efeitos nefastos dos conflitos armados e da má governação, deve-se dar prioridade a actos de solidariedade para com os desvalidos da sorte: os refugiados, sem casa, nem pão, nem água potável, sem roupas e sem as condições básicas de saúde. É certo! Mas não será, apenas, pela via caritativa do suprimento das necessidades imediatas de sobrevivência, que se criarão as condições necessárias para a construção de um futuro de prosperidade duradoura para a África.
Uma visão estratégica de desenvolvimento da África torna-se mister, não apenas ao nível das lideranças africanas, mas também das instituições e dos países “doadores”. Assim, a par do imediatismo das medidas de remediação dos infortúnios, importa pensar e construir o futuro, mediante uma aposta forte na qualificação e no empoderamento dos africanos e, do mesmo passo, no apoio consequente às políticas de desenvolvimento sustentáveis, que são indissociáveis da defesa de valores como a governação democrática, a garantia da legalidade e da justiça, a valorização da cultura e das identidades dos povos e a promoção do bem-estar social.
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