Cabo Verde deve formar doutores para produção de conhecimento endógeno

Com a devida vénia, publico, a seguir, a segunda e última parte da entrevista concedida à jornalista Arminda Barros, da Inforpress (Agência de Notícias de Cabo Verde), por ocasião do dia do Professor cabo-verdiano (23 de Abril): 


Dia do Professor: Cabo Verde deve formar doutores para produção de conhecimento endógeno  
Cidade da Praia, 23 Abr (Inforpress) – Cabo Verde deve continuar a apostar na formação de doutores que possam, através da investigação, produzir conhecimento novo e gerar uma massa crítica capaz de contribuir para o processo de desenvolvimento nacional, disse o professor Bartolomeu Varela.

O antigo administrador-geral da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) e docente começou por defender um ensino superior que aposte na triplicidade de funções do professor: produção do conhecimento/investigação, ensino e extensão, ou seja, prestação de serviço à sociedade para o seu empoderamento para evoluir.
Bartolomeu Varela, que falava a propósito do Dia do Professor Cabo-verdiano, que se assinala hoje, 23 de Abril, lamentou que o ensino superior no país esteja mais focalizado num ensino em que o conhecimento difundido na formação ainda é “maioritariamente fruto de produção exógena do conhecimento científico”.
Na sua visão, com a produção de conhecimento novo (por doutores e investigadores), este depois será inserido no processo de formação dos alunos e servirá também para o país contribuir para o património universal do conhecimento e da cultura.
Outro desafio, de acordo com Bartolomeu Varela, é, através da investigação e da formação superior, gerar uma massa crítica capaz de contribuir para a fundamentação de propostas de desenvolvimento sustentável do país, que ainda não beneficia de uma ligação “adequada” entre o mundo académico, o campo político e o mundo económico.
O objectivo, a seu ver, é que o campo político possa se ancorar na academia para, através da investigação científica e de estudos de alto nível científico e técnico, poder fundamentar o projecto nacional de desenvolvimento”.
O tecido económico e empresarial também deveria poder contar com ‘inputs’ da academia, afiançou, para assegurar que, enquanto isso não acontecer, o desenvolvimento do país vai decorrer com altos e baixos, na base da importação de conhecimento, ‘know how’ e tecnologia de outros países, “sem uma aposta consequente no desenvolvimento da massa crítica nacional”.
Nos outros níveis de ensino, a proposta deste professor doutor é que o país comece a investir desde o pré-escolar, onde quase 99% dos educadores de infância não têm formação adequada, isto é, curso superior nessa área, que tem um impacto enorme a níveis dos restantes sub-sistemas de ensino.
Concordou que esses profissionais possuem formação diferenciada e que muito poucos com formação em educação de infância encontraram sequer espaço de emprego para os diplomados, porque as entidades proprietárias do pré-escolar preferem pagar salários baixos, recrutando pessoal menos qualificado.
No caso do ensino básico, informou que a lei, desde 2010, prevê oito anos, quando ainda se está com seis anos de escolaridade básica e, “paradoxalmente, a cobrar propinas aos alunos do sétimo e do oitavo anos porque, pretensamente, são do ensino secundário, e não são”.
Neste cenário de problemas diversos, este docente vê como soluções desejadas a melhoria das condições de ensino/aprendizagem e a modernização não só pedagógica como científica e tecnológica, já que o país continua a ter um ensino muito transmissivo e apoiado sobretudo na verbalização.
Chamou a atenção para o facto de a escola funcionar a meio tempo, um sistema que vem da época colonial (anos 60 do século XX), o que não é a melhor opção, porque, “quando se tem pouco tempo escolar e, entretanto, vai-se aumentando o número de disciplinas, há uma enorme sobrecarga sobre os professores e uma pressão produtivista muito forte sobre os mesmos, que terão dificuldades em poder corresponder ao ensino de qualidade”.
Para Bartolomeu Varela, seria preferível ter menor número de disciplinas e integrar nelas um conjunto de outros objectivos de formação como educação para o ambiente, educação para a cidadania e educação para a saúde sexual e reprodutiva, etc., “mas sem criar um grande número de disciplinas, sem tempo adequado para as leccionar”.
Apesar disso, garantiu que Cabo Verde tem um sistema educativo que está “muito acima” do que acontece na sub-região africana, em geral.
“Mas nem por isso devemos ficar demasiado envaidecidos porque, mesmo nessa região, também há aspectos positivos que não conseguimos traduzir no nosso ensino básico”, salientou.
Como exemplo, avançou o caso dos países francófonos oeste-africanos em que os alunos, depois de terminarem o ensino básico, falam fluentemente a língua francesa e continuam a falar o 'wolof' ou outras línguas nativas.
“Nós não temos sido capazes, ao longo destes 40 anos de independência, de tornar o nosso sistema educativo (básico e secundário) capaz de preparar os alunos para falarem adequadamente o português e também a utilizarem adequadamente a língua nacional”, explicou.
Neste olhar sobre o percurso da classe docente em Cabo Verde, que ingressou com apenas 18 anos, no ano lectivo 1973/1974, após concluir quatro anos de preparação na escola de habilitação de professores (antes da Escola do Magistério Primário) e ter sido colocado na Brava, Bartolomeu Varela considerou que a democratização e massificação do ensino apresentam ganhos significativos.
Uma caminhada de que falou com propriedade, dado que foi professor primário, liceal (público e privado) e universitário, já com doutoramento concluído em Ciências da Educação, pela Universidade do Minho (Portugal), depois de um doutoramento em Direito, já pronto mas que, por opção própria, decidiu não defender.
Orgulha-se do contributo que tem dado a nível da legislação pela qual se rege a educação, a formação e o ensino superior no país, mas também da sua passagem pelo Parlamento, pelo Ministério da Educação como inspector da educação e secretário-geral e pela Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), que ajudou a criar e onde foi administrador-geral.
Já na reforma desde este ano lectivo, mantém-se “no activo”, porque continua a trabalhar ‘pro bono’ para a Uni-CV, lecionando, orientando alunos de pós-graduação e fazendo investigação, “enquanto tiver forças para tal”, sublinhou.
AB
Inforpress/Fim


Comentários

Anónimo disse…
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