Como manifestação genuína da cultura e
como ato de cultura, a luta de libertação nacional não só se fundamenta e
se inspira na cultura como influencia esta última (Cabral, 1972). Por
outro lado, a cultura da libertação nacional fundamenta a conceção e a
práxis da Democracia, posto que essa luta visa, em última instância, a
construção de uma sociedade nova, livre e de progresso, em que o poder
esteja nas mãos e ao serviço do povo.
Para ser vitoriosa, a gesta libertadora
exige, pois, a par do recurso ao “poder das armas”, que se mostrou
inevitável para fazer face à repressão colonial, a utilização da “arma
da teoria” ou do conhecimento: um conhecimento que deve ser mobilizado
para a transformação profunda da sociedade, ao serviço ou a bem desta.
No contexto da libertação nacional, Cabral não só delineia como enceta a implementação
das bases de um novo paradigma educacional que, pelo seu carácter
emancipatório, humanista e progressista, contraria os pressupostos do
ensino colonial e, no essencial, mantém toda a sua atualidade.
Nos conturbados tempos de hoje, a
obsessão pelo mercado continua a ser tendência dominante na
referencialização das políticas educativas e das prescrições
curriculares à escala global, não obstante as evidências de que a atual
crise internacional é largamente tributária do falhanço das políticas
ultraliberais de crença cega nas alegadas virtudes da desregulação da
economia.
No atual contexto, em que a globalização
hegemónica preconiza e impõe processos de ampla convergência e
uniformização da educação e do currículo, na base da ideia de que “tudo
se torna igual, independentemente dos contextos nacionais” (Pacheco,
2011, p. 15), subvalorizando-se quer a natureza emancipadora da educação
quer a sua função de promoção da diversidade cultural e identitária dos
povos, afigura-se oportuno invocar, sem cair no “culto da
personalidade”, o contributo de homens que, como Amílcar Cabral, Paulo
Freire e outros pugnaram por uma sociedade assente no ideário da
liberdade e da dignidade da pessoa humana, do progresso solidário e da
justiça social, para cuja construção concorrem, de forma decisiva, a
educação e a formação.
Nesta palestra, seguimos, de perto, em
vários pontos, um artigo científico que publicámos na revista Desafios,
nº 1, da Cátedra Amílcar Cabral, em 2013, e nalgumas das nossas páginas
Web, sob o título “A educação, o conhecimento e a cultura na práxis de
libertação nacional de Amílcar Cabral” .
Segue o texto integral da palestra realizada a 6 deste mês, na Universidade Federal do Pará:
Praia, 15 de Outubro de 2015.
Bartolomeu Varela
Universidade de Cabo Verde
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