Assisti, ontem, a uma parte de um programa televisivo difundido na RTP África, com um apanhado de opiniões sobre a educação em Cabo Verde durante o ano de 2008 e as perspectivas para o ano de 2009, que ora começa.
Deixando de lado algumas opiniões contrastantes expendidas, chamaram a minha atenção as ideias defendidas por três dos entrevistados, que coincidiram na opinião de que, em matéria de educação, um facto marcante do ano findo foi o arranque, em novos moldes, da Universidade de Cabo Verde, isto é, acrescento eu, com unidades orgânicas próprias, que lhe permitiram superar a fase inicial, de quase dois anos, em que a instituição, criada nos finais de 2006, funcionou em associação com os institutos públicos de ensino superior (ISE, ISECMAR, INAG), entretanto extintos em Setembro de 2008.
Um dos entrevistados, docente da Uni-CV, referiu, como algo positivo, o facto de a universidade ter realizado concursos para o recrutamento dos novos docentes, salientando, contudo, a necessidade de criação de condições adequadas para um bom desempenho dos professores e dos estudantes. Concordo com esta opinião, ainda que o entrevistado pudesse, num acto de justiça, reconhecer que tais condições estão sendo criadas, como o ilustram vários projectos em curso, tanto na Praia como em S. Vicente, como a ampliação de edifícios, a melhoria e o equipamento de gabinetes de docentes, de salas de aula, bibliotecas, laboratórios, salas e redes de informática, etc), além do esforço de elaboração e implementação de normativos e dispositivos de gestão da universidade...
O outro entrevistado, docente de uma instituição privada de ensino superior, embora reconhecendo, como facto relevante, o arranque da Universidade de Cabo Verde, com unidades orgânicas próprias, afirmou estar céptico quanto ao sucesso do modelo de universidade pública adoptado, alegando que a decisão foi tomada de cima para baixo, sem o envolvimento dos docentes, e acrescentou que a única preocupação que registou foi a de se pintar rapidamente o edifício para que ficasse com melhor aspecto no dia seguinte, que era o de início das actividades lectivas. Respeitando, também, esta opinião, não deixo, contudo, de constatar, uma vez mais, a necessidade que a Uni-CV tem de melhorar a sua comunicação com a sociedade, nomeadamente com a denominada "massa crítica", de modo a dar-se a conhecer melhor, pois, dando o benefíicio da dúvida a este entrevistado, que falhou redondamente nas suas críticas, parto do princípio de que ele terá opinado de boa fé, com base nas informações que possui, ou que não possui, só assim se compreendendo que não tivesse mencionado que: (i) o modelo de universidade foi amplamente debatido antes da criação da Uni-CV, em 2006, no âmbito das actividades desenvolvidas pela Comissão Instaladora, criada dois anos antes; (ii) o projecto orgânico e as linhas estratégicas de desenvolvimento da Uni-CV resultaram de um estudo sério e foram objecto de discussão pública e no seio dos docentes; (iii) o diploma de extinção das antigas unidades associadas, assim como os projectos de Regulamento Orgânico, dos Estatutos do Pessoal Docente e Não Docente, dos Cursos, etc, foram objecto de várias reuniões de discussão, ainda que, por vezes, no meio de boatos e tentativas de desinformação…
Mas o segundo entrevistado expendeu outras opiniões que merecem meu total apoio, tanto mais que as tenho defendido em várias ocasiões. Assim, defendeu a necessidade de uma verdadeira reforma do sistema educativo, nomeadamente com a generalização efectiva da escolaridade básica de oito anos (tantas vezes prometida e adiada), o ensino na língua cabo-verdiana, a reintrodução de línguas estrangeiras no 5º e 6º anos de escolaridade, etc.
O último entrevistado salientou a necessidade urgente de implementação de um sistema de regulação do ensino superior em Cabo Verde, capaz de promover a elevação da qualidade deste subsistema, de importância fulcral para o desenvolvimento sustentável do país.
Na verdade, eu vos digo, caros cibernautas: se há muito a fazer-se em matéria de adequação, modernização e qualificação do sistema educativo em Cabo Verde, a implementação das poucas ideias defendidas e aqui registadas será suficiente para que se dê já um importante salto qualitativo na educação cabo-verdiana.
Como nota final, lamento não ter podido seguir desde o início o trabalho do jornalista Abraão dado à estampa na RTP África. É que as questões de fundo que a Educação enfrenta em Cabo Verde (a falta de um verdadeiro planeamento educativo, as enormes insuficiências ao nível da educação, a ausência de um sistema adequado de regulação e de controlo de qualidade da educação, a inadequação ou ausência de normas estruturantes do sistema educativo, o obsoletismo e as lacunas gritantes a nível das concepções e praxes curriculares, a inadequação do modelo de financiamento do sistema, o fracasso da política de bolsas de estudo, etc) têm estado tão pouco presentes nos debates, designadamente a nível dos mass media cabo-verdianos! Talvez por isso mesmo, isto é, por falta de pressão da opinião pública, continue a adiar-se o seu agendamento e resolução.
Um dos entrevistados, docente da Uni-CV, referiu, como algo positivo, o facto de a universidade ter realizado concursos para o recrutamento dos novos docentes, salientando, contudo, a necessidade de criação de condições adequadas para um bom desempenho dos professores e dos estudantes. Concordo com esta opinião, ainda que o entrevistado pudesse, num acto de justiça, reconhecer que tais condições estão sendo criadas, como o ilustram vários projectos em curso, tanto na Praia como em S. Vicente, como a ampliação de edifícios, a melhoria e o equipamento de gabinetes de docentes, de salas de aula, bibliotecas, laboratórios, salas e redes de informática, etc), além do esforço de elaboração e implementação de normativos e dispositivos de gestão da universidade...
O outro entrevistado, docente de uma instituição privada de ensino superior, embora reconhecendo, como facto relevante, o arranque da Universidade de Cabo Verde, com unidades orgânicas próprias, afirmou estar céptico quanto ao sucesso do modelo de universidade pública adoptado, alegando que a decisão foi tomada de cima para baixo, sem o envolvimento dos docentes, e acrescentou que a única preocupação que registou foi a de se pintar rapidamente o edifício para que ficasse com melhor aspecto no dia seguinte, que era o de início das actividades lectivas. Respeitando, também, esta opinião, não deixo, contudo, de constatar, uma vez mais, a necessidade que a Uni-CV tem de melhorar a sua comunicação com a sociedade, nomeadamente com a denominada "massa crítica", de modo a dar-se a conhecer melhor, pois, dando o benefíicio da dúvida a este entrevistado, que falhou redondamente nas suas críticas, parto do princípio de que ele terá opinado de boa fé, com base nas informações que possui, ou que não possui, só assim se compreendendo que não tivesse mencionado que: (i) o modelo de universidade foi amplamente debatido antes da criação da Uni-CV, em 2006, no âmbito das actividades desenvolvidas pela Comissão Instaladora, criada dois anos antes; (ii) o projecto orgânico e as linhas estratégicas de desenvolvimento da Uni-CV resultaram de um estudo sério e foram objecto de discussão pública e no seio dos docentes; (iii) o diploma de extinção das antigas unidades associadas, assim como os projectos de Regulamento Orgânico, dos Estatutos do Pessoal Docente e Não Docente, dos Cursos, etc, foram objecto de várias reuniões de discussão, ainda que, por vezes, no meio de boatos e tentativas de desinformação…
Mas o segundo entrevistado expendeu outras opiniões que merecem meu total apoio, tanto mais que as tenho defendido em várias ocasiões. Assim, defendeu a necessidade de uma verdadeira reforma do sistema educativo, nomeadamente com a generalização efectiva da escolaridade básica de oito anos (tantas vezes prometida e adiada), o ensino na língua cabo-verdiana, a reintrodução de línguas estrangeiras no 5º e 6º anos de escolaridade, etc.
O último entrevistado salientou a necessidade urgente de implementação de um sistema de regulação do ensino superior em Cabo Verde, capaz de promover a elevação da qualidade deste subsistema, de importância fulcral para o desenvolvimento sustentável do país.
Na verdade, eu vos digo, caros cibernautas: se há muito a fazer-se em matéria de adequação, modernização e qualificação do sistema educativo em Cabo Verde, a implementação das poucas ideias defendidas e aqui registadas será suficiente para que se dê já um importante salto qualitativo na educação cabo-verdiana.
Como nota final, lamento não ter podido seguir desde o início o trabalho do jornalista Abraão dado à estampa na RTP África. É que as questões de fundo que a Educação enfrenta em Cabo Verde (a falta de um verdadeiro planeamento educativo, as enormes insuficiências ao nível da educação, a ausência de um sistema adequado de regulação e de controlo de qualidade da educação, a inadequação ou ausência de normas estruturantes do sistema educativo, o obsoletismo e as lacunas gritantes a nível das concepções e praxes curriculares, a inadequação do modelo de financiamento do sistema, o fracasso da política de bolsas de estudo, etc) têm estado tão pouco presentes nos debates, designadamente a nível dos mass media cabo-verdianos! Talvez por isso mesmo, isto é, por falta de pressão da opinião pública, continue a adiar-se o seu agendamento e resolução.
Faça-se, no entanto, a justiça merecida: não ignoro as coisas boas que se têm feito e se vão fazendo no sistema educativo, mas elas "sabem a pouco", em face do muito que deve fazer-se, para que a educação seja cada vez mais um instrumento decisivo no processo de transformação e de desenvolvimento sustentável de Cabo Verde!
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