sábado, 11 de julho de 2015

A Academia das Ciências e Humanidades de Cabo Verde propõe-se afirmar como instituição credível ao serviço do desenvolvimento


Tendo em conta os "avanços alcançados pela humanidade no que respeita ao acesso à informação, a construção de sociedades baseadas no conhecimento, bem como  interligação entre as ciências e as humanidades, numa lógica de inter e transdisciplinaridade," a Academia das Ciências e Humanidades de Cabo Verde - ACH-CV apresenta-se como um fórum  de "debate e proposta de soluções das grandes questões de desenvolvimento do país e sua integração dinâmica nas comunidades mundiais ancorando no valor do conhecimento" - lê-se na Nota de Imprensa difundida no final da primeira assembleia-geral da Academia, que teve lugar no dia 10 de Julho de 2015, nas instalações do Instituto Internacional de Língua Portuguesa – IILP, na Cidade da Praia.

Com a presença de académicos de diversas gerações, residentes no país e na diáspora, durante este evento  "histórico", conforme realça a Nota de Imprensa, foram aprovadas diversas deliberações e eleitos os órgãos estatutários. De entre as conclusões do Plenário a que se refere a Nota de Imprensa, passo a destacar as seguintes:

1- Reconhecimento do trabalho da Comissão Académica Instaladora, presidida pelo Doutor Onésimo Silveira, na condução da Academia durante a fase da sua instalação, bem como do papel do Poeta Corsino Fortes, um dos promotores da ACH-CV;

2 - Aprovação pelos promotores dos pedidos de admissão de 45 membros fundadores, passando a ACH-CV a ser constituída por  68 membros fundadores, residentes no país e na diáspora;

3- Aprovação do Regulamento Interno e do Regulamento Eleitoral da ACH-CV;

4- Eleição da Mesa do Plenário, para todo o mandato (3 anos), constituída pelos seguintes membros: Doutora Iva Cabral – Presidente; Doutor Jairzinho Pereira – Vice-Presidente; Doutor Carlos Bellino Sacadura – Secretário;

4- Eleição, por sufrágio secreto, sob a condução de uma Comissão Eleitoral, dos demais órgãos estatutários, a saber:

a) Conselho Académico: Doutor Jorge Sousa Brito - Presidente do Conselho Académico e da Academia; Doutor João Lopes, Filho – Vice-Presidente; Doutora Amália de Melo Lopes – Vice-Presidente;  Doutor Bartolomeu Varela – Secretário-Geral; Doutor António Aly de Pina - Tesoureiro;

 b) Conselho Fiscal  - Doutor  Albertino Graça – Presidente; Doutor Manuel Brito Semedo - Vogal; Doutor Júlio de Carvalho - Vogal;

 5- Eleição da Comissão para Marca, Logo, Portal e Infraestruturação Tecnológicada Academia, constituída pelos Doutores Leão Lopes (Presidente), Silvino Évora  e Eurídice Monteiro;

6- Aprovação de Moções de Homenagem ao Membro Promotor falecido Ireneu Fileto Gomes, bem com ao Engº. Horácio Soares, recentemente falecido;

7- Distinção com o título de Presidente Emérito do Membro Fundador Doutor Onésimo Silveira.

Refira-se ainda que o Plenário aprovou o montante mensal da quota dos membros da ACH-CV, que é de mil escudos.

Por fim, o Plenário tomou  conhecimento das linhas orientadoras da ação da Academia das Ciências e Humanidades de Cabo Verde para os próximos 3 anos, apresentada pelo Presidente ACH-CV e do Conselho Académico, Professor Doutor Jorge Sousa Brito, de entre as quais passo a destacar as seguintes, esperando traduzir o mais fielmente possível a alocução do Presidente:

- Consolidação da Academia das Ciências e Humanidades de Cabo Verde - ACH-CV, mediante o envolvimento de todos os seus membros, residentes no país ou no estrangeiro, individualmente ou integrados em grupos ou comissões de trabalho;

- Afirmação da credibilidade da ACH-CV no seio da sociedade cabo-verdiana, mediante um trabalho qualificado, em parceria com as instituições do ensino superior, os poderes públicos e demais entidades potencialmente interessadas;

- Promoção da Academia nos contextos regional e internacional, mediante o desenvolvimento de relações de colaboração e parceria com outras instituições;
 

- Elaboração do plano estratégico da ACH-CV com base numa ampla auscultação individual dos membros da ACH-CV para o levantamento de suas perspetivas e contribuições;
 

- Promoção da investigação científico-humanística sobre questões relevantes, numa perspetiva inter e transdisciplinar;

- Colaboração com as instituições de ensino superior cabo-verdianas em iniciativas e projetos de natureza transversal, que extravasem a atuação de cada uma delas em particular;
 

- Organização de jornadas científicas para a discussão de questões específicas de candente relevância para a sociedade cabo-verdiana e o seu desenvolvimento;

- Promoção da produção académica, mediante patrocínio de estudos e criação de prémios de mérito;

- Criação de condições para a publicação de uma revista académica credível até ao final do mandato;

- Levantamento da diáspora científica cabo-verdiana e identificação das linhas de investigação em que possa participar tendo em vista a promoção da cultura cabo-verdiana e o desenvolvimento do país;

- Promoção do património imaterial cabo-verdiano, na sua diversidade, tendo por base um roteiro de estudos e investigação a ser aprovado;

- Contribuição, através de estudos especializados para a promoção da língua cabo-verdiana, valorando as suas variantes, tendo em vista a sua elevação ao estatuto de língua oficial, no quadro do bilinguismo nacional;

- Até ao final do mandato, revisão dos Estatutos e aprovação dos símbolos e marcas da Academia das Ciências e Humanidades de Cabo Verde.



Praia, 11 de Julho de 2015.

Bartolomeu L. Varela
Professor da Universidade de Cabo Verde
Membro Fundador da ACH-CV



segunda-feira, 27 de abril de 2015

A formação dos professores nem sempre foi mantida com coerência


Com a devida vénia, publico, a seguir, a primeira parte da entrevista concedida à jornalista Arminda Barros, da Inforpress (agência de Notícias de Cabo Verde), por ocasião do dia do Professor cabo-verdiano (23 de Abril):

Bartolomeu Varela: A formação dos professores nem sempre foi mantida com coerência

Cabo Verde vem progressivamente promovendo a massificação do ensino com aumento considerável do número de professores com um conjunto de direitos e regalias, mas a aposta na sua formação nem sempre foi mantida com coerência, defendeu Bartolomeu Varela.


Em entrevista à Inforpress a propósito do Dia do Professor Cabo-verdiano, que se assinala a 23 de Abril, este ‘eterno’ professor, com mais de 40 anos dedicados ao ensino, disse que o país continua com um corpo docente no ensino primário composto, na sua grande maioria, por professores que não possuem curso superior.
Apenas 9 a 10% de professores desse nível de ensino possuem curso superior, ainda que não confira grau de licenciatura, o que é “muito pouco”, confirmou Bartolomeu Varela, para lembrar que a lei de bases do sistema educativo de 2010, que veio a exigir como requisito mínimo para ser docente o bacharelato, “ficou praticamente como uma letra morta”.

Isso porque não se apostou maciçamente na formação dos professores desse nível, criticou, ao realçar que os ganhos conseguidos no sector da educação poderiam ser maiores se a aposta na sua formação em exercício “fosse mais consequente e mais assumida de forma regular ao longo dos tempos”.
Apesar de reconhecer como positivo o facto de duas instituições públicas assumirem a formação de professores, a Uni-CV e o actual Instituto Universitário de Educação (IUE), podendo instituições privadas também intervir nesse domínio, Bartolomeu Varela considerou que isso acaba por criar outros problemas.
O mais importante, a seu ver, é o fraco aproveitamento dos recursos humanos, do potencial científico existente a nível das duas instituições para uma estratégia de formação de professores mais bem conseguida e que pudesse ser acessível a todos e nas diversas ilhas.

Na visão do professor, por estarem sedeadas na Praia, no Mindelo e até na Assomada, isso cria grandes dificuldades aos professores das outras ilhas que não podem se deslocar a esses centros urbanos, pelo que a formação à distância se impõem como uma grande prioridade, devendo-se investir em recursos, novas tecnologias de informação, formação de professores de ensino superior e adequado a esse nível, etc.
Bartolomeu Varela lamentou, entretanto, as reforma "decretadas” numa perspectiva de cima para baixo e sem auscultação dos professores, porquanto criam uma situação delicada, porque têm dificuldade em compreender o sentido e alcance das mesmas.
Aliás, as reformas têm um grande défice congénito, que é não estarem devidamente explicitadas, adiantou o professor, salientando que “não existe um documento público, do Estado, a explicitar o sentido e o alcance das reformas, até mesmo o conceito de reforma que se quer implantar no país”, o que cria muitas incertezas, dúvidas e vários problemas na sua implementação.
Destacou, contudo, que é graças aos professores que existem, “com défices consideráveis de qualificação e que se repercutem também na qualidade da educação, em relação à qual a sociedade tem estado muito crítica”, que o sistema educativo no período pós-independência evoluiu, contribuindo para uma mobilidade social ascendente, para um avanço considerável no combate à pobreza e na melhoria das condições de vida das pessoas e para a redução do analfabetismo a um nível residual.
Espera que as negociações em curso sobre o estatuto dos professores e outras reivindicações se traduzam em melhorias das condições de trabalho, de desenvolvimento profissional e de remuneração.
“Sem professores qualificados e motivados não temos um sistema educativo de alta qualidade, susceptível de nos fazer competir com outros sistemas educativos, até do mundo ocidental”, argumentou.
Bartolomeu Varela é um reformado "activo" da Uni-CV que, actualmente, trabalha ‘pro bono’ para esta universidade, lecionando, orientando alunos de pós-graduação e fazendo investigação.

Começou como professor do ensino básico, na Brava, ainda no período colonial com 18 anos, depois de concluir uma formação de quatro anos na escola de habilitação de professores, mas também foi professor do ensino secundário público e privado.

Ajudou a criar a Uni-CV, onde foi também administrador-geral, tendo sempre dado o seu contributo na elaboração da legislação nacional em matéria de educação, formação e ensino superior.
Dentre os vários cargos que desempenhou, merecem menção os de inspector da educação e de secretário-geral do Ministério da Educação.
AB
Inforpress/

Qualidade e Regulação da Educação - Práxis e perspetivas no contexto cabo-verdiano

Partindo do entendimento de que a educação, a diversos níveis, constitui um bem público essencial, ė imperioso que ela seja de qualidade, so...